sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Mas com que roupa?

Estou ficando com medo de ganhar fama de chato, cri-cri (ainda se usa esse termo?) - isso se alguém além do Agenor lê esse blog -, mas lá vou eu. Este texto de certa forma continua o "Cuidado, tem gente olhando", sobre os músicos no palco.

Outro dia vi o spalla de uma das principais orquestras do país subir ao palco com uma casaca dois números maior do que ele. Parecia o Dunga dos Sete anões. Já não sou fã de casaca, mas se estivesse elegantemente cortada e ajustada, vá lá.

Como diz um maestro amigo meu, como errar nota não derruba avião nem dá caganeira, muita gente acha que músico é um profissional que não precisa de seriedade e responsabilidade. Vamos às minhas lulísticas comparações: imagine entrar no consultório do dentista e encontrá-lo com o jaleco sujo? Ou ver o chef de um restaurante bacana com unhas enormes. Você pode argumentar que nesses dois casos a sujeira no jaleco compromete a higiene e consequentemente a qualidade do trabalho. A questão é que ir a um concerto é uma experiência sensorial, envolta em uma magia que compreende a chegada ao teatro, o café, a qualidade do programa, o cheiro da sala, o músico afinando com um semblante legal (não emburrado) e a estética da orquestra, dentre outras coisas.

Há no Brasil ótimos estilistas que poderiam desenhar roupas elegantes e modernas para cantores e instrumentistas, mas já que a realidade ainda é a velha casaca - e o terno nos concertos diurnos -, os músicos e os gerentes e inspetores deveriam se preocupar e reparar mais em um sapato surrado, um terno preto que na verdade é cinza e destoa dos outros e de uma gravata com a imagem do Papa-léguas.

Este foi o prelúdio. Vamos aos vestidos das solistas.

A soprano Sumi Jo quando veio ao Brasil, pela série da Tucca, entrou no palco com um vestido dourado, brilhante, colado e decotado. Exagerado? Provavelmente, mas era um recital dela com piano, em uma apresentação em que as pessoas lotaram a Sala SP para vê-la. Como a moça tem uma voz deslumbrante e corpo idem, o resultado foi bom - sem falar que na segunda parte ela voltou com um vestido vermelho, bem vermelho.

Essa situação é diferente de uma obra sinfônica com solistas vocais, ópera em versão de concerto, oratório ou coisa que o valha. Os focos são a obra, a orquestra, o maestro e os outros solistas. E eis que aparecem a soprano e a contralto, como vi recentemente, com vestidos dignos das AndréRietes. Uma de amarelo ovo e a outra de azul turquesa, com vestidos que parecem alugados na Rua das Noivas, no centro de SP.

Trocando em miúdos: para quem começa uma carreira na música, a mensagem que se transmite ao público, e a quem o contrata, passa pela forma com a qual você se veste e se apresenta. Isso não quer dizer que você precise estar perfeitamente formal, vide o violinista Amadeus Leopold, mas precisa estar impecavelmente de acordo com a situação.

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