segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Cuidado, tem gente olhando

Tenho uma impressão muito forte que boa parte dos músicos de orquestra não se dá conta da quantidade de pessoas olhando pra eles. Acho até que alguns acreditam que o público só olha para o maestro, ou para o solista. Mas a infeliz constatação é que, com o regente dando as costas para a plateia, o passatempo predileto de parte significativa do público é reparar nos músicos.

Durante o concerto, quando não estão tocando, alguns instrumentistas olham para o teto do teatro, outros ficam arrumando a gravata/vestido. Oboístas se entretêm com seus paninhos e palhetas, e não é incomum presenciar alguns bocejos.

Façamos um paralelo raso com uma peça de teatro. Imaginem se, enquanto um personagem declama seu texto, os outros atores em cena ficassem olhando para o chão, para as unhas ou para o escuro da plateia com cara de quem está pensando no seguro do carro ou na compra de mercado que terá que fazer após o espetáculo?

Quando eu trabalhava na Osesp e participava do período de assinaturas, havia assinante que na renovação fazia questão de manter o lugar na primeira fila da plateia elevada [da Sala SP], pra reparar nos detalhes do vestido de uma das violinistas.

Recentemente um crítico de música clássica fez um comentário pertinente e positivo sobre a apresentação em São Paulo da Orquestra Jovem Simón Bolívar, com regência de Dudamel. Ele dizia que era empolgante perceber que todos os músicos estavam 'ligados' o tempo todo na música, no solista e no maestro - mesmo quando não estavam tocando -, todos sentados na ponta das cadeiras. Por aqui, isso é coisa rara, a maioria dos músicos não se dá conta que um concerto é um espetáculo, e se o público quisesse só ouvir a música ficaria em casa com um CD da Filarmônica de Berlim.

Para os estudantes de música, resta esperar que pensem nisso quando estiverem no palco, com suas orquestras, em um teatro com 50 ou com 1.500 pessoas, pois naquele escuro tem muita gente de olho em você.


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